Não li muitos livros de Christie, mas basta ler apenas um que você já percebe a facilidade da autora em criar e contar histórias incríveis, traçando os acontecimentos de forma magnífica e sem deixar a conclusão óbvia. O Caso dos Dez Negrinhos é conhecido como sua obra de arte, e foi seu livro que mais vendeu. Explorando bem seus personagens e abrindo espaço para todos terem seu grande momento, Christie apresenta seu estilo único, um marco no gênero da literatura policial, que mostra como não é preciso fornecer tantos detalhes para se contar uma boa história. Pelo menos quando esta história está nas mãos dela.
Seja como convite de passeio ou a trabalho, oito pessoas são convidadas por cartas a ir até a Ilha do Negro, na costa de Devon. Chegando ao local, são levados de barco até uma ilhota com uma casa moderna, na qual um casal de mordomos os esperavam. Os anfitriões não estão na casa, e nenhum deles jamais vira os mesmos. Nos quartos, um poema sobre dez negrinhos que morriam cada um de forma diferente do outro ficava em cima da lareira, e pequenos retratos de porcelana com dez negrinhos serviam de decoração na mesa de jantar. A noite chegou, e, enquanto esperavam a chegada dos proprietários, um disco no gramofone acusou cada um presente de assassinato. Em seguida, um deles morre envenenado pela bebida, seguido de outro que morre enquanto dormia. Assim, assassinatos vão acontecendo da mesma forma que cada negrinho morre no poema; e cada acontecimento é seguido de um retrato de porcelana desaparecido. A ilha está vazia, e não há contato com o exterior. Os proprietários nunca chegaram, e a única certeza é a de que quem está fazendo isto se encontra entre eles.
Apresentados logo aos visitantes da ilha à caminho do local, conhecemos o mínimo possível sobre cada um. A ideia de Christie é que os personagens tenham seu passado revelado ao decorrer da trama, para que não tenhamos um preferido ou um suspeito logo de cara; a pura essência do gênero, que hoje em dia é difícil de encontrar. Ágatha faz o possível para deixar o leitor intrigado, com os olhos colados nas páginas e criando suas próprias hipóteses (eu jurava que o Sr. Rogers tinha um irmão gêmeo!) para os acontecimentos - desde desaparecimentos de objetos (como as próprias figurinhas de porcelana ou até mesmo a cortina do banheiro) a personagens que parecem estar perdendo a sanidade mental (vide o tapa na cara que Vera ganhou do Dr. Armstrong). São coisas assim que fazem a cabeça do leitor agir e formar sua opinião sobre o (s) culpado (s), sobre como tudo aconteceu e sobre os motivos pra tudo acontecer, e Christie é a melhor em criar esses momentos e, principalmente, em concluí-los de forma fenomenal, praticamente impossível de ser descoberta antes da hora.
Com criatividade, a escritora realiza uma das melhores, se não a melhor, obra de sua carreira. Quebrando barreiras (na época poucas mulheres se arriscavam a ser escritoras, pois ainda havia muito preconceito, e muitos menos em escreverem romances policiais), Ágatha Christie foi uma das pessoas mais influentes de sua época, e ainda continua a influenciar escritores e leitores no mundo inteiro. O Caso dos Dez Negrinhos prova isso do começo ao fim, exalando genialidade da mente por trás dele.
Livro: O Caso dos Dez Negrinhos
Autor: Ágatha Christie
Editora: Globo
Páginas: 219
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