quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O Ladrão de Raios | Rick Riordan














Criar uma obra de fantasia nos dias de hoje é uma tarefa difícil, já que o escritor tem que se desviar dos estereótipos e concentrar suas ideias no original, mas sem perder a essência do gênero - que é a responsável por vender os livros e conquistar fãs. O mais difícil ainda é criar uma obra de fantasia que se passa nos dias de hoje, porque tem que ter muito cuidado ao misturar os avanços do século XXI com lendas de vampiros, bruxos, zumbis ou, como neste caso, mitologia.

Percy Jackson tem doze anos, vive mudando de escola e sofre de déficit de atenção. Para onde vai, ele arranja confusão. Em casa, sua mãe é casada com Gabe "Cheiroso", seu padastro, e ele nunca conheceu o pai biológico. Em um passeio escolar, o jovem acaba descobrindo que sua professora de álgebra, na verdade, é uma Fúria (ou Benevolente, como as chamam) e ele - com a ajuda de uma espada - transforma a criatura em pó. Desde aí, várias outras coisas acontecem e ele vai parar no Acampamento  Meio-Sangue, e descobre ser um semideus, filho de Poseidon - o deus dos mares.

No início do livro, o protagonista fala diretamente com você e te dá um recado: "Se você está lendo isto porque acha que pode ser um [meio-sangue], meu conselho é o seguinte: feche este livro agora mesmo." - se Rick Riordan escrevesse isso no século passado, seria uma ofensa para com o gênero. Afinal, a fantasia antigamente era feita para o próprio leitor se sentir dentro da trama; do mundo criado pelo escritor. Quantas crianças já não fuçaram o guarda-roupa em busca da passagem para Nárnia? Alguns autores atuais ainda seguem esta linha, mas Rick Riordan foi na direção oposta e misturou o século XXI com mitologia de uma forma bem mais física e menos "mágica" do que Rowling e seu Harry Potter ou Lewis e sua Nárnia, por exemplo, e talvez esse seja o principal erro do escritor: dizer que ser filho de um deus não é bom

Não só no que se refere a própria frase, Riordan erra também na maneira que conduz esse lema de forma a tentar fazer com que o leitor acredite nisto. Em alguma página do livro, Percy Jackson (que, aliás, é um dos protagonistas mais irritantes que eu já tive o desprazer de conhecer) revisa tudo de ruim que aconteceu até aquele momento e coloca toda a culpa nos deuses. Mas acontece que essas passagens são tão rápidas - e algumas até estranhas - que fica difícil acreditar que um chihuahua pode se tornar uma mortal Quimera, que um poodle os ajude a ganhar dinheiro para pagar passagens de trem ou que Procrusto, O Esticador seja dono de uma loja de colchões d'água - tudo isso soa, no mínimo, ridículo.

Uma cópia descarada de Harry Potter? Talvez seja um equívoco comparar obras com temas tão diferentes; mas é impossível deixar de notar algumas semelhanças. Os personagens, por exemplo: Percy e Harry têm sua arrogância pessoal (embora Potter seja mamão com açúcar perto de Jackson) e sofrem com a falta dos pais; tudo está contra, e jamais a favor, deles. Annabeth e Hermione são o cérebro do grupo, e muitas vezes chegam a ser irritantes; e Rony Weasley e Grover são o "alívio cômico" do trio. Mas temos que concordar que Riordan não consegue ser tão genial quanto Rowling ao criar sua obra; seja nos infantis acontecimentos durante toda a trama ou na falta de exploração dos próprios personagens (no livro inteiro, ele praticamente não chora pela morte da mãe, o que leva por água abaixo as tentativas de Riordan de explorar o sofrimento de um Percy órfão).

O Ladrão de Raios ridiculariza a mitologia grega, e dificilmente conquistará a atenção dos verdadeiros fãs do tema com um protagonista insuportável e coadjuvantes que não roubam a cena pela falta de exploração ou por serem, simplesmente, patéticos.

Livro: Percy Jackson & Os Olimpianos: O Ladrão de Raios
Autor: Rick Riordan
Editora: Intrínseca
Páginas:385

3 comentários:

Aione Simões disse...

Uau!
Gostei muito do seu texto e foi, com certeza, diferente de tudo que já li sobre a série!
Eu ainda não li nenhum livro, então não posso opinar, mas tenho muita vontade.
De qualquer forma, achei seu texto muito sincero e, principalmente, bem escrito!
Parabéns!
Beijos!

★ Deeh Lopes ★ disse...

mas a mãe dele não morreu '-' por isso ele não chora. Simplesmente não gostei do seu texto, desculpa.

Renato Temponi Domingues disse...

Deeh Lopes, respeito sua opinião, mas antes de tudo, preciso defender minha resenha.

O que vale aqui não é o fato da mãe dele ter ou não morrido; mas, a partir do momento que o Minotauro, "com um rugido furioso, fechou os punhos em volta do pescoço da minha mãe e ela se dissolveu diante dos meus olhos (...) e ela simplesmente... se foi", ele acredita sim que sua mãe tenha morrido, o que uma página depois se torna concreto pelas palavras do próprio Percy: "pensei em como ele havia espremido a vida para fora de minha mãe".

Ou seja, Percy acredita, por um bom tempo, que sua mãe tenha sim morrido, e aqui o autor na minha opinião não explora de forma convincente a emoção do protagonista, a não ser no último parágrafo deste mesmo capítulo.

Agora, uma coisa eu te digo: mesmo se o autor tivesse se aprofundado nas emoções de Percy, minha opinião sobre a trama e o desenvolvimento dela não mudariam em nada, desculpa.

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