domingo, 29 de maio de 2011

Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, de Stieg Larsson


Mais do que uma trama policial onde um jornalista acusado de difamação e uma hacker antissocial tentam desvendar o desaparecimento de uma jovem há 36 anos atrás, o livro de Stieg Larsson acaba criando diversas ramificações e personagens coadjuvantes que, no fim, servem como prova de que a violência, a corrupção e a injustiça estão escondidas em todos os cantos de nossa sociedade, bem debaixo de nosso nariz. Mas o mais surpreendente na obra do jornalista sueco é que seus dois protagonistas, que se vêem presos nessa teia de intrigas, não são nada comuns e utilizam métodos pouco ortodoxos para conseguirem o que querem - mostrando que nem sempre o mal deve ser combatido com o bem.

E são esses personagens que oferecem uma leitura diferente ao leitor de Larsson. Embora toda a apresentação destes seja bem demorada, porque o escritor indiscutivelmente adora detalhes, suas personalidades, seus métodos e suas decisões são muito opostas ao que costumamos encontrar nas tramas investigativas. O sarcasmo, as jogadas falsas e as deduções podemos encontrar em Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle, por exemplo. Já a tortura, a violência sexual, as câmeras de vídeo escondidas, o abuso de poder e o ponto de vista psicológico são temas bem mais atuais. O que podemos tirar de tudo isso é que Larsson consegue mesclar todos esses elementos, antigos ou mais recentes, de uma trama investigativa a um conhecimento muito grande que ele mostra ter de tudo o que se passava na Suécia na época ou mais antigamente, seja economicamente ou politicamente falando, sendo o jornalista respeitado que era.

Outro fator que chama muito a atenção em Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, e que não vemos nos outros dois livros da trilogia, é o cenário principal da história. Pra começar, não é todo o dia que vemos uma grande obra literária sueca, não é mesmo? Larsson dá um mapa detalhado das ruas, dos lugares mais frequentados e mais conhecidos de Estocolmo, mas é na ilha de Hedeby que a trama se desenvolve melhor e é onde está concentrado todo o frisson da trama. Os protagonistas, enquanto investigam o desaparecimento da jovem, hospedam-se nesta ilha praticamente reservada da família Vanger, cujo um ou mais dos integrantes pode ser o responsável pelo sumiço da jovem há anos atrás. Ninguém ali, exceto Henrik Vanger, concorda com a presença deles e alguém faz de tudo para tirá-los dali (o que inclui uma perseguição pulsante pela orla da ilha em um momento do livro).

Alguns podem se assustar com este primeiro livro exatamente pelos diálogos longos e monótomos no início e no final - a maioria devido ao caso Wennerström -, mas a facilidade que vemos de Larsson em escrever e o ritmo contagiante do segundo ato onde os dois personagens se juntam para investigar valem a pena por todo o esforço e tenho certeza de que você vai querer continuar a trilogia, se gostar do gênero, é claro.


Livro: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres
Autor: Stieg Larsson
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 528

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Portal Skoob - para todos os leitores!















Se você é um apaixonado por livros, não pode deixar de ter uma conta no Skoob - a rede social dos leitores! Com um ótimo visual, Skoob tem vários recursos para os amantes da literatura se divertirem. Além de você poder selecionar todos os livros, revistas e mangás que já leu, ganha o seu "paginômetro", que anuncia quantas páginas você já revisou em toda sua vida. Há também porcentagens que avisam se tal livro foi mais lido por mulheres ou homens, e a compatibilidade entre você e seus amigos por gosto literário.















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Tendo uma conta PLUS, você pode trocar livros OnLine, com muita segurança, já que vê fotos reais das obras que estão sendo negociadas pelos membros. Membros estes os quais você pode adicionar como amigo e até mesmo segui-los, como no Twitter, além de poder trocar ideias e dicas com eles via página de recados. No seu perfil, escolha sua citação de livro preferida para todos verem.














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sexta-feira, 20 de maio de 2011

A Aldeia Sagrada | Francisco Marins














Francisco Marins é um dos grandes escritores brasileiros de livros infanto-juvenis, dono da série sobre a fazenda Taquara-Póca e de uma bibliografia invejável. Porém, A Aldeia Sagrada é um de seus deslizes. O livro tem a missão de apresentar ao público um fato histórico brasileiro pelos olhos de um jovem garoto, mas as barreiras psicológicas de uma criança não estão presentes aqui, fazendo com que não exista ingenuidade na personagem, e que a trama tenha como protagonista um sertanejo qualquer, e não uma criança (até mesmo porque os jovens de antigamente eram bem mais maduros dos de hoje em dia). Fato que prejudica a narrativa do livro, que fica cada vez menos empolgante com uma trama simples e nada inovadora.

Didico morava com seu tio e sua tia em uma casa pobre no sertão, mas a morte da tia e o sumiço do tio acabam fazendo com que ele se junte à um grupo de retirantes que procuram fugir da terrível seca. Em um dos lugares onde o grupo acampava, chega um velho homem de aspecto bondoso: Antônio Conselheiro construíra uma aldeia conhecida como Canudos, onde todos se ajudam. Porém, logo o governo começará a mandar tropas ao local, resultando na sangrenta Guerra de Canudos. Didico descobre que seu tio está do lado de Conselheiro, e, com a ajuda de dois amigos, vai até Canudos em busca do tio, no auge da batalha.

O livro tem dois grandes ápices. O primeiro é quando Didico, com a ajuda dos amigos e de seu fiél cão assaltam um terreno para roubar pés de mandioca, mas acabam sendo perseguidos por cães. Já o segundo é o final, que consegue ser a única parte que chega mais perto de emocionar o leitor. A Guerra de Canudos, que teria de ser o auge do enredo, é retratada tão rapidamente que chega a ser totalmente esquecível. Assim como os personagens, que praticamente não têm exploração alguma.

A Aldeia Sagrada tem erros graves, que tornam o livro um tanto quanto sofrível para a leitura. Se estiver procurando uma obra sobre a Guerra de Canudos, este livro é parcialmente informativo. Já, se estiver procurando uma estória de sertanejos retirantes, há obras bem melhores do que esta.

Livro: A Aldeia Sagrada
Autor: Francisco Marins
Editora: Ática
Páginas: 106

domingo, 15 de maio de 2011

Ilustradora Lucy Knisley cria quadrinhos da série Harry Potter

A jovem ilustradora Lucy Knisley criou uma versão em quadrinhos dos resumos dos cinco primeiros livros da Saga Harry Potter (e não dos filmes). A moça de 26 anos deve ainda fazer as versões dos últimas duas obras de J. K. Rowling. Para quem nunca leu a saga do bruxo órfão, talvez não irá entender nada; já quem é fã, com certeza irá descobrir quais são as cenas ausentes nos quadrinhos de Knisley. Confira (clique para ampliar):





Harry Potter e a Pedra Filosofal
Harry Potter e a Câmara Secreta


Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban











































































Harry Potter e o Cálice de Fogo
 




Harry Potter e a Ordem da Fênix






sábado, 14 de maio de 2011

As Crônicas de Nárnia: O Sobrinho do Mago | C. S. Lewis














O escritor irlandês Clive Staples Lewis publicou, em 1950, seu primeiro livro. As Crônicas de Nárnia: O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa se tornou um clássico da literatura infantil; e Lewis não pretendia continuar uma saga de livros. Porém, prosseguiu escrevendo até o quarto livro da franquia; que é quando ele decide continuar a saga, mas com estórias que preenchessem as lacunas das passagens de um livro para o outro. Em As Crônicas de Nárnia: O Cavalo e Seu Menino, ele conta as aventuras do cavalo Bri e do menino Shasta enquanto acontece a Era de Ouro em Nárnia (ou seja, durante o reinado dos irmãos Pevensie), recheando o espaço vazio que ficou entre o primeiro e o segundo livro em ordem de publicação de informações. Já As Crônicas de Nárnia: O Sobrinho do Mago é o penúltimo livro a ser publicado, mas o primeiro em ordem cronológica.

Neste, Lewis nos apresenta a garota Polly e o menino Digory, que são vizinhos e descobrem que o tio do garoto é um mago que fabricou dois anéis mágicos que levam eles ao Bosque entre Mundos, um local com vários lagos que levam à diferentes mundos. Entrando em uma das lagoas, os meninos vão parar em Charn, onde libertam Jadis, A Feiticeira Branca, que acaba voltando junto à eles até nosso mundo. Porém, viajando novamente ao Bosque entre Mundos, os garotos, a Feiticeira e o Tio André vão parar em um local vazio, mas que logo é transformado em Nárnia, pelo leão Aslam.

Lewis cria o Reino de Nárnia de um jeito mágico, afinal não havia uma maneira melhor de fazê-lo, já que Nárnia é um mundo em que tudo pode acontecer. Os livros de fantasia que criam paralelos da Terra, em sua maioria, são adorados pelo público (especialmente o infantil), pois são lugares em que as pessoas sonham em conhecer um dia. Mas o melhor da Saga As Crônicas de Nárnia é que C. S. Lewis cria toda uma história para seu mundo mágico, misturando Mitologia Grega, Nórdica, batalhas, animais falantes, contos de fadas, etc. e utiliza temas cristãos em todos os livros. Em O Sobrinho do Mago, em especial, trata-se Aslam como Deus, e a maçã dourada como uma fonte do pecado. Já em A Viagem do Peregrino da Alvorada, por exemplo, temos os Sete Pecados e a Estrela Azul, que serve como guia dos garotos (o que lembra a Estrela Guia, que levou os Três Reis Magos até Jesus).

Com seus personagens principais, Lewis quer dizer que a imaginação, coragem e humildade das crianças podem "mover montanhas". Polly, Digory, Susana, Pedro, Edmundo, Lúcia, Shasta, Aravis, Jill - todos eles são crianças que, sozinhas, partem para aventuras que mudarão os rumos de Nárnia e darão lições de moral ao leitor. Mas o principal erro de Lewis em suas obras é a falta de descrição de seus personagens e cenários. Nós nunca sabemos a aparência dos personagens, nem mesmo dos principais, o que leva muitas pessoas à preferirem os filmes (feitos pela Disney) aos livros, já que o número de páginas não são tão grandes, e os longas mantêm a fidelidade e ainda acrescentam as lindas paisagens de Nárnia.

Resumindo: Lewis realizou uma das melhores sagas de livros de fantasias existentes, e merece pontos por isso; mas a falta de detalhes sobre seus cenários e personagens pode ser considerada um erro cometido por ele; além de alguns diálogos em que nós não sabemos quem está falando, fazendo com que o leitor volte à ler o parágrafo diversas vezes. Porém, O Sobrinho do Mago é um livro essencial para quem quer entender o Reino de Nárnia e se maravilhar com o encanto de C. S. Lewis.

Livro: As Crônicas de Nárnia - O Sobrinho do Mago
Autor: C. S. Lewis
Editora: Martins Fontes
Páginas: 184

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Menino do Pijama Listrado | John Boyne















"Um livro tão simples e tão bem escrito que beira a perfeição." Este trecho do jornal The Irish Independent descreve a obra de John Boyne excepcionalmente bem. O Menino do Pijama Listrado tem uma narrativa simples, mas tão envolvente que chegamos à sentir carinho por Bruno, o protagonista de apenas nove anos - o que é difícil, já que o livro é voltado para o público adolescente/adulto.

Boyne nos entrega uma ampla visão de espaço/cenário, explicando toda a aparência deste - seja da mansão de Berlim, ou do próprio campo de concentração -, assim como de personagens: "Ele vestia o mesmo pijama listrado que todas as outras pessoas daquele lado da cerca, e um boné listrado de pano. Não tinha sapatos ou meias, e os pés estavam um pouco sujos. No braço ele trazia uma braçadeira com uma estrela desenhada. (...) A pele era quase cinza, mas diferente de outras tonalidades de cinza que Bruno já havia visto. Os olhos eram bem grandes, da cor de balas de caramelo; os brancos eram muito brancos, e, quando o menino olhou para Bruno, tudo o que este viu foi um par de enormes olhos tristes a encará-lo." E tudo isto, avaliado pela mente de Bruno, ganha comparações infantis, como tal trecho: "Os olhos eram bem grandes, da cor de balas de caramelo".

O enredo segue Bruno, um menino de nove anos cuja profissão do pai (a qual ele nem mesmo sabe corretamente o que é) fez sua família se mudar de Berlim para uma casa em um lugar apelidado de Haja-Vista pelo garoto; onde não há amigos para ele brincar. Da janela de seu quarto, ele avista uma espécie de fazenda ao longe, onde há pessoas vestidas de "pijamas listrados", mas nunca recebe uma resposta de sua família sobre o verdadeiro significado disso tudo. Porém, brincando de detetive no longo quintal da nova casa, ele acaba chegando perto da "fazenda" e encontra Shmuel, um garoto da mesma idade que a sua, preso do outro lado da cerca. Desde aí, a amizade dos dois se torna cada vez mais forte. Para entender melhor, estamos na década de 40, onde o Holocausto permanece matando inocentes de formas que, mais tarde, viríamos a descobrir serem extremamente malignas, o pai de Bruno é um dos grandes homens de Hitler, e a tal "fazenda" é o Campo de Auschwitz.

John Boyne coloca a ignorância e ingenuidade de duas crianças à frente de um monstruoso sistema; uma missão para poucos. O autor ainda coloca pequenos detalhes que exemplificam tal ingenuidade, como o fato de Bruno pronunciar Fúria ao invés Führer, quando se refere à Hitler; e, se tem algo em que Boyne é mestre, este algo são os pequenos detalhes, que, muitas vezes, passam imperceptivelmente. Bruno e Shmuel, por exemplo, nasceram no mesmo dia, e isso só serve para reforçar a dúvida de ambos do porquê de cada um estar de lados diferentes da cerca.

As personagens e subtramas são muito bem exploradas: Shmuel conta como foi que chegou ao Campo de Concentração; Bruno explica favoravelmente o porquê da casa de Berlim fazer dele uma pessoa feliz; e a mãe do protagonista não aguenta mais a vida que ela tem após descobrir o que queimam nas chaminés do Campo de Concentração. E tudo isto é emendado de uma forma agradável para o leitor.

Muitos reclamam da falta de informação do Holocausto, em si, no enredo do livro; mas o que poucos entendem é que estamos na mente de Bruno, e o autor respeita as limitações psicológicas do garoto - e físicas também, já que ele não pode passar pelas cercas de casa ou do Campo de Concentração. E, se ele não tem conhecimento sobre o que acontece lá fora, consecutivamente nós também não teremos.

O Menino do Pijama Listrado pode não ter nenhum personagem marcante - de fato-, e ter vários momentos monótonos, mas a trama inteligente envolve o leitor. Se tiver procurando um livro sobre o nazismo, passe longe deste daqui, mas se quiser uma boa estória sobre amizade, O Menino do Pijama Listrado é um ótimo pedido.

Livro: O Menino do Pijama Listrado
Autor: John Boyne
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 186

Harry Potter » A magia de J.K. Rowling, as traduções brasileiras e a fidelidade nos cinemas

A Magia de J. K. Rowling













As histórias de magia, feiticeiros e poções andavam em baixa (pela péssima criatividade e qualidade de seus enredos) quando a genial J. K. Rowling deu vida à Harry Potter. Segundo ela, em1990, ele simplesmente "surgiu" em sua cabeça, enquanto viajava de trem de Londres para Manchester. Quando chegou em casa, escreveu os três primeiros capítulos de Harry Potter e a Pedra Filosofal, mas logo parou, pois fora morar por um tempo em Portugal para dar aulas de inglês. Porém, ao voltar à Grã-Bretanha, retomou o projeto, que viria, mais tarde, a ser uma franquia de sucesso pelo mundo inteiro. Em 1997, a Editora Bloomsbury lança a primeira edição do livro. "Nos dez anos seguintes, J. K. Rowling iria praticamente respirar Harry Potter"*.

É extrema ignorância dizer que o "mundo" criado por Rowling não é inteligente, complexo e, ao mesmo tempo, divertido e empolgante. Todos os personagens, subtramas e elementos mágicos são tratados com tal realismo, que fazem você acreditar que, se olhar diretamente nos olhos de um Basilisco, você morre; ou que, ao misturar raízes de valeriana, losna, asfódelo e vagem soporífera, forma-se a Poção do Morto-Vivo, uma espécie de sonífero. Enquanto, por um lado, Rowling cria novos elementos fantásticos, de outro, ela aproveita os símbolos de bruxaria que já conhecíamos e acrescenta características suas, como cada varinha ter sido criada com um tipo específico de madeira e núcleo.

Porém, o mais intrigante no enredo de toda a franquia é a ligação desta com o mundo real; conforme Harry cresce, seus problemas vão aumentando e ficando cada vez mais maduros, fazendo com que a trama, em si, amadureça (tendo como o início de tal amadurecimento o terceiro livro). Afinal, para que o público se identifique com o personagem e a história, o autor não pode deixar de lado as questões sociais. Em Harry Potter, Rowling aborda praticamente tudo, como o bullying, racismo, ambição, orgulho, entre outros. Um dos assuntos mais intensos é a discriminação familiar. Até os onze anos, Harry é maltratado pelos tios e pelo primo; assim, quando descobre o mundo mágico, onde tem amigos e uma casa (ele chega a dizer várias vezes que Hogwarts é sua verdadeira casa), o bruxo se depara, pela primeira vez, com o conforto e a segurança de se sentir amado. E o amor é um outro tema bem explorado por Rowling. Lílian morreu para salvar Harry: há um exemplo melhor de amor do que o de uma mãe salvando a vida de seu filho? E foi por este motivo que Voldemort desapareceu àquela noite, e Harry Potter ganhou a cicatriz em forma de raio em sua testa.

Em Harry Potter e o enigma do Príncipe, enquanto a trama assume um enredo mais dramático (principalmente com o desenvolvimento da personalidade de Draco Malfoy, o passado de Voldemort e a revelação oficial ao mundo bruxo da volta deste), Rowling desenvolve os hormônios adolescentes, e suaviza a trama com poções de amor, romances atuais e romances do passado. Já em Relíquias da Morte, o exílio de Harry, Rony e Hermione acaba se tornando o verdadeiro antagonista da trama, mesmo com um grande rival. Sozinhos no mundo, eles têm a dificílima tarefa de encontrar e destruir as horcruxes de Voldemort. Três adolescentes sozinhos, lutando contra um mal aparentemente inextinguível. E, no resumo de tudo, permanece a certeza de que J. K. Rowling é genial, e de que Harry Potter não acaba por aqui.

*Criativo trecho retirado do especial da revista Mundo Estranho "100 Respostas - Harry Potter".


As Traduções Brasileiras

Os tradutores brasileiros têm a mania de infantilizar suas traduções; e Lia Wyler (a tradutora responsável pela versão brasileira da franquia), mesmo realizando, em sua maioria, um bom trabalho na tradução dos livros de Rowling, mantém tal clichê algumas vezes. Vou citar, como exemplo, a tradução do Hino de Hogwarts. Enquanto a tradutora de Harry Potter e a Pedra Filosofal (livro onde o hino aparece) em Portugal criou uma canção bem mais poética (com direito à rimas), Wyler acaba abobando o hino, com frases que nos levam à crer que a profissional traduziu Harry Potter e a Pedra Filosofal pensando apenas nos pais que leriam os livros para as crianças (como o quarto e o oitavo verso). Confira:

Versão original
"Hogwarts, Hogwarts, Hoggy Warty Hogwarts,
Teach us something please,
Whether we be old and bald,
Or young with scabby knees,
Our heads could do with filling,
with some interesting stuff,
For now they're bare and full of air,
Dead flies and bits of fluff,
So teach us things worth knowing,
Bring back what we've forgotten,
Just do your best,
we'll do the rest,
And learn until our brains all rot."

Versão portuguesa
"Hogwarts, Hogwarts, infalível, Hogwarts,
Ensina-nos, por favor
Quer sejamos velhos e calvos
Ou jovens em pleno vigor,
Nossas mentes precisam de ser
Repletas de coisas interessantes
Pois estão vazias e cheias de ar
Como balões de gigantes.
Ensina-nos o que tiver valor
Faz-nos lembrar paz e tormenta
Dá o teu melhor, enche por favor
Toda a nossa massa cinzenta!"

Versão brasileira
"Hogwarts, Hogwarts, ó querida Hogwarts,
Venha nos ensinar
Quer sejamos velhos e calvos
Quer moços de pernas raladas,
Temos as cabeças precisadas
De ideias interessantes
Pois estão ocas e cheias de ar,
Moscas mortas e fios de cotão.
Nos ensine o que vale a pena
Faça lembrar o que já esquecemos
Faça o melhor, faremos o resto,
Estudaremos até o cérebro desmanchar
"

O que mais atormentou e provocou ira dos fãs foi a tradução dos nomes das Casas Comunais de Hogwarts. Cada uma delas leva o sobrenome de seus criadores: Hufflepuff ficou Lufa-Lufa, Gryffindor virou Grifinória, Ravenclaw tornou-se Corvinal, e Slytherin ficou Sonserina. Desta forma, Wyler acabou com o significado dos nomes dados por Rownling (Slytherin: Sly é astuto, fingido em inglês, por exemplo) e provou mais ainda que os tradutores brasileiros não gostam muito de utilizar nomes ingleses em suas traduções. O próprio nome do pai de Harry Potter foi modificado, de James para Tiago. Sendo assim, seu nome completo ficou Harry Tiago Potter. Já o nome de uma das jogadoras do Time de Quadribol da Grifinória foi alterado tão de repente que os fãs podem até mesmo escolher se preferem dizer Cátia Bell ou Kate Bell. 

Há traduções que dividiram a opinião do público, como  a palavra "Muggle" (quem não tem magia) ser trocado por "Trouxa", que, no Brasil, pode ser usado como um adjetivo ofensivo e é também o nome dado para um embrulho grande. 
Porém, é claro, Wyler merece mais elogios do que críticas pelo seu trabalho. Ela chegou a ser elogiada por Rowling ao criar várias palavras, como "Quadribol", "Lembrol", " Penseira", entre outros. Há também a ótima tradução do nome de um dos imãos de Rony Weasley: Bill Weasley. Em inglês, Bill é apelido para William e, como William em português quer dizer Guilherme, o nome da personagem ficou Gui Weasley.

A Fidelidade nos Cinemas














A indústria cinematográfica não ia deixar essa ótima saga de livros sem uma franquia de filmes. Em 1998, a produtora Warner Bros. comprou o projeto, contanto que respeitasse as condições de Rowling. Todos os integrantes do elenco tinham que ser britânicos, com exceção de poucos. Ela sempre está presente dando idéias e observando a produção dos filmes de sua franquia. Isso é que é mãe!

Em Harry Potter e a Pedra Filosofal, dirigido por Chris Columbus, o livro todo praticamente está na telona. Primeiramente, somos apresentados à Daniel Radcliffe protagonizando o filme (eles são bem parecidos, com exceção dos olhos de Radcliffe que são azuis e não verdes, como os da personagem). Há personagens que são tão parecidos, que, quando lemos os livros, podemos até mesmo imaginar os atores. Um exemplo é toda a família Dursley, Severo Snape e Alvo Dumbledore. O roteiro mantém todas as partes relevantes, e a única grande falta é a última fase para chegar à Câmara da Pedra Filosofal (aquela das poções, feitas pelo professor Snape), que poderia ter sido incluída. A ausência do fantasma Pirraça foi muito questionada pelos fãs. Os efeitos especiais, embora não muito avançados, criaram um realista Trasgo e uma lindíssima Hogwarts, com o auxílio da ótima direção de arte. O figurino é um show à parte, pois a idéia de colocar os emblemas das Casas Comunais no uniforme foi ótima. A trilha sonora de John Williams se tornou clássica!

Já no segundo filme, Harry Potter e a Câmara Secreta (também dirigido por Columbus), o roteiro prova-se ainda mais fiél ao livro do que seu antecessor, já que este tem um maior número de páginas (287, contra 262 de A Pedra Filosofal). Os efeitos especiais se aprimoraram, com destaque para o gigante Basilisco e às Acromântulas.O cenário da Câmara Secreta foi muito bem criado, e a entrada de Kenneth Brannagh como Gilderoy Lockhart foi satisfatória, assim como Bonnie Wright, interpretando Gina Weasley, irmã mais nova de Rony. Porém, o grande ápice do filme é o engraçadíssimo Dobby, o elfo doméstico, criado magistralmente pelos efeitos visuais.

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban foi um ápice na franquia. Pra começar, o elenco mirím aprimorou a atuação, e o novo diretor Alfonso Cuarón dá uma criatividade imensa ao filme (os Dementadores são ÓTIMOS!), e o clima sombrio da fotografia tem a ajuda da ótima trilha sonora. A fidelidade, claro, vai diminuindo, já que o terceiro livro tem 384 páginas, mas os melhores momentos são tão bem aproveitados que você até esquece do que faltou. Os planos finais, onde Harry e Hermione usam o Vira-Tempo, são totalmente empolgantes, e Michael Gambom como Dumbledore oferece uma agilidade maior ao personagem (Richard Harris, o antigo intérprete, faleceu logo após as filmagens do segundo filme). Os efeitos visuais são muito melhores que os dos filmes antecessores. A cena final no lago é um marco na história do cinema, assim como a transformação do Lobisomem. Hogsmeade é retratada maravilhosamente!

Harry Potter e o Cálice de Fogo, assim como seu antecessor, se tornou um dos preferidos do público. Os efeitos visuais estão presentes praticamente em todas as cenas (dando destaque às Três Tarefas, principalmente a primeira, com os dragões). Porém, a fidelidade começa a diminuir sua qualidade (o livro tem 483 páginas). Todos os fãs sentiram falta do F.A.L.E. (organização criada por Hermione para libertar os elfos domésticos), e, claro, do próprio Dobby, que é um dos personagens preferidos do público, e que só aparece novamente no sétimo filme (sendo que deveria ter aparecido neste, no quinto e no sexto também). Há também a ausência da Cozinha de Hogwarts, que tinha sua presença aguardada por todos os fãs da série. O encontro de Harry e Voldemort foi épico, assim como no livro, mas foi duvidosa a qualidade da idéia de colocarem os Comensais da Morte para voar, carregando uma fumaça negra.

Muitos fãs não gostaram de Harry Potter e a Ordem da Fênix por culpa da baixa fidelidade para com o livro. Mas não havia mesmo o que fazer, visto que a obra literária é a maior da franquia, com 702 páginas (J.K. Rowling anunciou que estava sofrendo de "bloqueio de criatividade"). Faltaram muitos personagens e muitas cenas, como as limpezas no Largo Grimmauld, a briga de Harry e Cho em Hogsmeade, um melhor desenvolvimento da história da profecia, entre outros. A cena em que Percy Weasley segura Harry no escritório de Dumbledore chega a se tornar burlesca, já que o roteiro não explora a briga deste com a família e, por conseguinte, de sua entrada no Ministério. Todos os atores parecem ter nascido para realizar seus papéis, com exceção de Helena Bonham Carter. A Comensal da Morte é apresentada no livro com feições duras, mas bela, o que passa longe da aparência de Carter, mas ela realiza uma Belatriz Lestrange tão perfeita, obcecada e neurótica, que nem tiramos nota do filme por isso. Imelda Statunton está simplesmente perfeita no papel da irritante Dolores Umbridge, e Evanna Lynch praticamente é a Luna Lovegood. O diretor David Yates consegue explorar melhor a atuação de Daniel Radcliffe (que nunca consegue passar emoção), além de realizar planos ótimos, como o duelo final. Aqui, enquanto os Comensais da Morte ganham "fumaça" negra, os membros da Ordem da Fênix adquirem uma "fumaça" branca, fugindo muito do apresentado no livro. Outro fator negativo é que as pessoas que têm tais "fumaças" conseguem aparatar e desaparatar no Ministério da Magia (um ótimo cenário, aliás), o que é um absurdo.

Como eu já até mesmo disse, J. K. Rowling suavizou a trama de Harry Potter e o enigma do príncipe com os hormônios adolescentes, mas o lado obscuro da trama ainda permanece maior que o lado romântico. Porém, no filme, o roteiro utiliza poções do amor, beijos e momentos engraçados em abundância, sobrepondo as cenas de ação e adrenalina, que, por um acaso, são ótimas. O que os fãs mais sentiram falta no filme é a quantidade de lembranças em que Dumbledore e Harry entram. Enquanto no filme são apenas duas, no livro são muitas, e a maioria com grande importância para o desfecho final da saga. A implantação da cena onde A Toca pega fogo foi genial, pois serve para atualizar o público sobre o verdadeiro status do mundo bruxo no momento. O grande destaque do elenco, desta vez, é Jim Broadbent, realizando com muita perfeição o professor Horácio Slughorn.

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 já estreou, e esperaremos chegar o último filme da série para atualizarmos o post com a fidelidade de ambos os filmes para com o livro Harry Potter e as Relíquias da Morte.