domingo, 29 de maio de 2011

Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, de Stieg Larsson


Mais do que uma trama policial onde um jornalista acusado de difamação e uma hacker antissocial tentam desvendar o desaparecimento de uma jovem há 36 anos atrás, o livro de Stieg Larsson acaba criando diversas ramificações e personagens coadjuvantes que, no fim, servem como prova de que a violência, a corrupção e a injustiça estão escondidas em todos os cantos de nossa sociedade, bem debaixo de nosso nariz. Mas o mais surpreendente na obra do jornalista sueco é que seus dois protagonistas, que se vêem presos nessa teia de intrigas, não são nada comuns e utilizam métodos pouco ortodoxos para conseguirem o que querem - mostrando que nem sempre o mal deve ser combatido com o bem.

E são esses personagens que oferecem uma leitura diferente ao leitor de Larsson. Embora toda a apresentação destes seja bem demorada, porque o escritor indiscutivelmente adora detalhes, suas personalidades, seus métodos e suas decisões são muito opostas ao que costumamos encontrar nas tramas investigativas. O sarcasmo, as jogadas falsas e as deduções podemos encontrar em Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle, por exemplo. Já a tortura, a violência sexual, as câmeras de vídeo escondidas, o abuso de poder e o ponto de vista psicológico são temas bem mais atuais. O que podemos tirar de tudo isso é que Larsson consegue mesclar todos esses elementos, antigos ou mais recentes, de uma trama investigativa a um conhecimento muito grande que ele mostra ter de tudo o que se passava na Suécia na época ou mais antigamente, seja economicamente ou politicamente falando, sendo o jornalista respeitado que era.

Outro fator que chama muito a atenção em Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, e que não vemos nos outros dois livros da trilogia, é o cenário principal da história. Pra começar, não é todo o dia que vemos uma grande obra literária sueca, não é mesmo? Larsson dá um mapa detalhado das ruas, dos lugares mais frequentados e mais conhecidos de Estocolmo, mas é na ilha de Hedeby que a trama se desenvolve melhor e é onde está concentrado todo o frisson da trama. Os protagonistas, enquanto investigam o desaparecimento da jovem, hospedam-se nesta ilha praticamente reservada da família Vanger, cujo um ou mais dos integrantes pode ser o responsável pelo sumiço da jovem há anos atrás. Ninguém ali, exceto Henrik Vanger, concorda com a presença deles e alguém faz de tudo para tirá-los dali (o que inclui uma perseguição pulsante pela orla da ilha em um momento do livro).

Alguns podem se assustar com este primeiro livro exatamente pelos diálogos longos e monótomos no início e no final - a maioria devido ao caso Wennerström -, mas a facilidade que vemos de Larsson em escrever e o ritmo contagiante do segundo ato onde os dois personagens se juntam para investigar valem a pena por todo o esforço e tenho certeza de que você vai querer continuar a trilogia, se gostar do gênero, é claro.


Livro: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres
Autor: Stieg Larsson
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 528

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