sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Menino do Pijama Listrado | John Boyne















"Um livro tão simples e tão bem escrito que beira a perfeição." Este trecho do jornal The Irish Independent descreve a obra de John Boyne excepcionalmente bem. O Menino do Pijama Listrado tem uma narrativa simples, mas tão envolvente que chegamos à sentir carinho por Bruno, o protagonista de apenas nove anos - o que é difícil, já que o livro é voltado para o público adolescente/adulto.

Boyne nos entrega uma ampla visão de espaço/cenário, explicando toda a aparência deste - seja da mansão de Berlim, ou do próprio campo de concentração -, assim como de personagens: "Ele vestia o mesmo pijama listrado que todas as outras pessoas daquele lado da cerca, e um boné listrado de pano. Não tinha sapatos ou meias, e os pés estavam um pouco sujos. No braço ele trazia uma braçadeira com uma estrela desenhada. (...) A pele era quase cinza, mas diferente de outras tonalidades de cinza que Bruno já havia visto. Os olhos eram bem grandes, da cor de balas de caramelo; os brancos eram muito brancos, e, quando o menino olhou para Bruno, tudo o que este viu foi um par de enormes olhos tristes a encará-lo." E tudo isto, avaliado pela mente de Bruno, ganha comparações infantis, como tal trecho: "Os olhos eram bem grandes, da cor de balas de caramelo".

O enredo segue Bruno, um menino de nove anos cuja profissão do pai (a qual ele nem mesmo sabe corretamente o que é) fez sua família se mudar de Berlim para uma casa em um lugar apelidado de Haja-Vista pelo garoto; onde não há amigos para ele brincar. Da janela de seu quarto, ele avista uma espécie de fazenda ao longe, onde há pessoas vestidas de "pijamas listrados", mas nunca recebe uma resposta de sua família sobre o verdadeiro significado disso tudo. Porém, brincando de detetive no longo quintal da nova casa, ele acaba chegando perto da "fazenda" e encontra Shmuel, um garoto da mesma idade que a sua, preso do outro lado da cerca. Desde aí, a amizade dos dois se torna cada vez mais forte. Para entender melhor, estamos na década de 40, onde o Holocausto permanece matando inocentes de formas que, mais tarde, viríamos a descobrir serem extremamente malignas, o pai de Bruno é um dos grandes homens de Hitler, e a tal "fazenda" é o Campo de Auschwitz.

John Boyne coloca a ignorância e ingenuidade de duas crianças à frente de um monstruoso sistema; uma missão para poucos. O autor ainda coloca pequenos detalhes que exemplificam tal ingenuidade, como o fato de Bruno pronunciar Fúria ao invés Führer, quando se refere à Hitler; e, se tem algo em que Boyne é mestre, este algo são os pequenos detalhes, que, muitas vezes, passam imperceptivelmente. Bruno e Shmuel, por exemplo, nasceram no mesmo dia, e isso só serve para reforçar a dúvida de ambos do porquê de cada um estar de lados diferentes da cerca.

As personagens e subtramas são muito bem exploradas: Shmuel conta como foi que chegou ao Campo de Concentração; Bruno explica favoravelmente o porquê da casa de Berlim fazer dele uma pessoa feliz; e a mãe do protagonista não aguenta mais a vida que ela tem após descobrir o que queimam nas chaminés do Campo de Concentração. E tudo isto é emendado de uma forma agradável para o leitor.

Muitos reclamam da falta de informação do Holocausto, em si, no enredo do livro; mas o que poucos entendem é que estamos na mente de Bruno, e o autor respeita as limitações psicológicas do garoto - e físicas também, já que ele não pode passar pelas cercas de casa ou do Campo de Concentração. E, se ele não tem conhecimento sobre o que acontece lá fora, consecutivamente nós também não teremos.

O Menino do Pijama Listrado pode não ter nenhum personagem marcante - de fato-, e ter vários momentos monótonos, mas a trama inteligente envolve o leitor. Se tiver procurando um livro sobre o nazismo, passe longe deste daqui, mas se quiser uma boa estória sobre amizade, O Menino do Pijama Listrado é um ótimo pedido.

Livro: O Menino do Pijama Listrado
Autor: John Boyne
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 186

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